O desmatamento ilegal tem sido uma das principais ameaças às terras indígenas brasileiras nos últimos anos. Em Rondônia, a TI Karipuna é uma das mais atingidas por essa atividade, ocupando a nona posição entre as mais devastadas na Amazônia. Com 153 mil hectares, ela está situada a 100 quilômetros de Porto Velho, capital do estado. Bastante vulnerável à invasão, a área é cercada por fazendas e vem sendo desmatada de forma intensa desde 2015, já contabilizando, ao todo, mais de 11 mil hectares de floresta destruídos.¹
Imagem 1. Localização da TI Karipuna no estado de Rondônia
Fonte: Funai
Elaboração: Teófilo Arvelos
Naquele estado, as terras indígenas, ao lado dos demais espaços de conservação, desempenham um papel de suma importância para a preservação da Amazônia. Em abril de 2021, porém, por meio da Lei Complementar 1089/2021, a Reserva Extrativista Jaci-Paraná, a poucos quilômetros da TI Karipuna, perdeu 168 mil hectares (quase 90% de sua área); e o Parque Estadual Guajará-Mirim, imediatamente ao sul da TI, 55 mil hectares — dois espaços essenciais para a conservação florestal —, o que reforçou ainda mais o papel ecológico das terras indígenas, ao mesmo tempo que as deixou mais expostas ao desflorestamento.²
Imagem 2. TI Karipuna e entorno geográfico
Fonte: Planet NICFI Basemaps
Elaboração: Teófilo Arvelos
Na imagem acima, torna-se visualmente evidente como terras indígenas, a exemplo da Igarapé Ribeirão e da Karipuna, funcionam como “bolsões verdes” em um meio profundamente agropecuário, recortado em centenas de fazendas.
O mosaico abaixo, valendo-se de imagens do satélite Landsat 8, mostra o avanço do desmatamento na TI Karipuna (em cor vinho) ao longo do tempo. Áreas mais claras, que lembram riscos, são as desmatadas.
Mosaico 1. Evolução do desmatamento na TI Karipuna (2013–2022)
Fonte: Landsat 8/Copernicus/Sentinel Hub
Elaboração: Teófilo Arvelos
Como se percebe, a partir de 2018-2019, o desmatamento teve um grande aumento, expandindo-se por novas áreas ano após ano. Anteriormente, o desflorestamento era verificado mais no noroeste da TI. Com o passar do tempo, porém, o entorno do rio Formoso, situado no sudeste da terra indígena — onde não se concentravam atividades de grilagem e mais distante dos grandes centros de exploração ilegal e predatória de Rondônia —, começou a apresentar números cada vez maiores de desmatamento.³
Entre agosto de 2020 e julho de 2021, a região do rio Formoso registrou 510,3 hectares desmatados — 65% do total de novos desmatamentos verificados no interior da TI Karipuna no ano inteiro. Desse total, 94,7% — ou seja, 483,77 hectares — foram desmatados somente em 2021, entre janeiro e junho.³
No segundo semestre do ano passado e no primeiro semestre deste ano, a exploração continua avançando. A imagem a seguir, produzida por meio de operação matemática com imagens da banda 4 (vermelho) do satélite Landsat 8, de julho de 2021 e maio de 2022, realça, em tons mais claros, as novas áreas desmatadas no período. Nota-se, com isso, que não há tendência de queda no ritmo de desmatamento.
Imagem 3. Áreas desmatadas na TI Karipuna (jul. 2021–mai. 2022)
Fonte: Landsat 8
Elaboração: Teófilo Arvelos
Atualmente, devido a uma desastrosa história de contato com não indígenas⁴, o povo Karipuna é um grupo pequeno: são, ao todo, 58 sobreviventes. Desses 58, porém, apenas 22 efetivamente moram na terra indígena ou a frequentam — o que, somado a uma fiscalização pouco presente, torna-a especialmente vulnerável à invasão ilegal.¹