Atuação e expansão do garimpo na TI Yanomami
Teófilo Arvelos

Trabalhos recentes de monitoramento do garimpo na Terra Indígena Yanomami, na região Norte do país, têm demonstrado que a atividade se expande em ritmo acelerado, explorando novas áreas a cada ano e incrementando sua infraestrutura e sua complexa rede de abastecimento e escoamento.

 

No documento Cicatrizes na Floresta: Evolução do garimpo ilegal na TI Yanomami em 2020¹, elaborado no primeiro trimestre de 2021 pela Hutukara Associação Yanomami e pela Associação Wanasseduume Ye’kwana, e no relatório do primeiro trimestre de 2021² do Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal na TI Yanomami (SMGI), é demonstrado que o garimpo ilegal conta com centenas de embarcações, aeronaves, plantações, barracões com antenas de televisão ou internet e estabelecimentos de lazer, como bares.

 

Imagem 1. Mapa do garimpo na TI Yanomami em dezembro de 2020

Mapa do garimpo na TI Yanomami em dezembro de 2020

Elaboração: SMGI

 

Para ilustrar a atuação e a expansão do garimpo na TI Yanomami, selecionamos uma pequena área de estudo, nas proximidades do rio Couto de Magalhães, no município de Iracema (RR). A seguir, serão apresentados mapas e imagens de satélite que indicam como a atividade econômica se desenvolve espacialmente.

 

Imagem 2. Localização da área de estudo e da TI Yanomami

Localização da área de estudo e da TI Yanomami

Elaboração: Teófilo Arvelos

 

Na imagem a seguir, tirada em 20/09/2021 pelo satélite Sentinel-2, é possível notar o impacto do garimpo nos cursos hídricos, especialmente no rio Couto de Magalhães, no centro da imagem. A cor verde-clara indica sedimentos em suspensão na água, relacionados ao garimpo e às demais atividades antrópicas dos garimpeiros. Os triângulos vermelhos, no canto superior esquerdo da imagem, representam concentrações de habitações indígenas.

 

É possível notar que, mesmo na proximidade das comunidades indígenas, onde há atividade antrópica, o rio não apresenta cor verde-clara. Isso demonstra como os sedimentos em suspensão na água estão intimamente ligados ao garimpo e aos garimpeiros.

 

Imagem 3. Área de estudo com destaque para o rio Couto de Magalhães

Área de estudo com destaque para o rio Couto de Magalhães

Elaboração: Teófilo Arvelos

 

Abaixo, a mesma imagem de satélite foi composta por uma combinação de bandas diferente, de modo a destacar pistas de pouso em meio à floresta. Elas podem ser identificadas pelos segmentos retilíneos que se encontram circulados. O círculo magenta, no canto superior esquerdo, realça a pista de pouso regular que dá acesso às comunidades indígenas por serviços de apoio. Os demais círculos, em cor amarela, mostram pistas de pouso clandestinas usadas por garimpeiros.

 

Imagem 4. Área de estudo com destaque para pistas de pouso

Área de estudo com destaque para pisas de pouso.

Elaboração: Teófilo Arvelos

 

Em dezembro de 2021, o Ibama divulgou ter inutilizado, mediante a operação Xaripi, 277 pistas de pouso clandestinas na TI Yanomami, que serviam de apoio logístico ao garimpo ilegal.³ Elas foram localizadas por meio de ferramentas de sensoriamento remoto e de informações de inteligência.

 

Todavia, essa operação não foi suficiente para por fim à exploração, que segue em curso. Tomando um recorte da referida área de estudo como exemplo, as imagens de satélite a seguir, também produzidas pelo Sentinel-2, mostram como a histórica atuação da atividade econômica continua em expansão.

 

Colagem 1. Evolução do garimpo em recorte da área de estudo (2017–2022)

Evolução do garimpo em recorte da área de estudo (2017–2022)

Elaboração: Teófilo Arvelos

 

Ainda que a última imagem, de 28/04/2022, apresente uma alta cobertura de nuvens, é possível identificar expansões em relação à penúltima imagem, de 20/09/2021.

 

Na colagem a seguir, evidencia-se o avanço do garimpo em recorte da área de estudo entre janeiro e abril do presente ano. As manchas escuras nas imagens abaixo, produzidas pelo Sentinel-1, indicam a presença da mineração.

 

Colagem 2. Evolução do garimpo em recorte da área de estudo (jan.–abr.)

Evolução do garimpo em recorte da área de estudo (jan.–abr.)

Elaboração: Teófilo Arvelos

 

A primeira imagem da colagem acima representa um recorte da área de estudo no dia 07/01/2022, enquanto a segunda o representa no dia 13/04/2022, três meses depois. Já a terceira imagem evidencia áreas em que houve expansão do garimpo nesse período.

 

Conforme o relatório Yanomami sob ataque: garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo, de abril de 2022, no ano passado, a destruição provocada pelo garimpo na TI cresceu 46% em relação a 2020, havendo um incremento anual de 1.038 hectares e atingindo um total acumulado de 3.272 hectares.

 

Além de seu impacto no ecossistema, a presença dos garimpeiros também tem sido causa de inúmeros abusos aos direitos humanos, na forma de estupros, assédios, ameaças e assassinatos. Movimentos indígenas têm constantemente se mobilizado por justiça, exigindo o fim do garimpo ilegal em suas terras. Entretanto, novos relatos de violência apenas têm se intensificado ao longo do tempo.

 

Referências

¹ HUTUKARA Associação Yanomami; ASSOCIAÇÃO Wanasseduume Ye’kwana. Cicatrizes na Floresta: Evolução do garimpo ilegal na TI Yanomami em 2020. 2021. Disponível em: https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/documents/prov0202.pdf. Acesso em: 4 mai. 2022.

 

² SMGI. Relatório do Primeiro Trimestre de 2021. Abril de 2021. Disponível em: https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/documents/prov0236.pdf. Acesso em: 4 mai. 2022.

 

³ G1. Mais de 270 pistas clandestinas em regiões de garimpo são inutilizadas pelo Ibama na Terra Yanomami. Disponível em: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/12/30/mais-de-270-pistas-clandestinas-em-regioes-de-garimpo-sao-inutilizadas-pelo-ibama-na-terra-yanomami.ghtml. Acesso em: 4 mai. 2022.

 

HUTUKARA Associação Yanomami; ASSOCIAÇÃO Wanasseduume Ye’kwana. Yanomami sob ataque: garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo. 2022. Disponível em: https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/documents/prov0491_1.pdf. Acesso em: 4 mai. 2022.