O avanço do coronavírus nas aldeias indígenas
*Ângelo Gabriel
28/07/2020

No dia primeiro de abril, foi confirmado o primeiro caso de contaminação do novo coronavírus entre nós, povos indígenas. Desde então, a proliferação do vírus tornou-se exponencial, de acordo com a articulação dos povos indígenas do Brasil, atualmente, já são 19.342 casos confirmados nas reservas indígenas, assim como 588 indígenas mortos pela COVID-19. O vírus trouxe consigo diversos problemas para os povos de diferentes regiões, tanto para os que moram em áreas urbanas quanto para os indígenas isolados.

Dentre os problemas acarretados, temos a dificuldade do processo de adaptação de indígenas que vivem em contexto urbano, a exemplo universitários que saíram de suas aldeias para estudar, bem como a dos indígenas isolados que carecem de infraestrutura específica, além das constantes invasões de terras indígenas, e o medo de um possível genocídio dos povos isolados.

A pandemia trouxe consigo entraves que dificultaram a vida das pessoas, tanto dos indígenas quanto dos não indígenas. Um dos problemas evidenciados é a dificuldade de indígenas que vivem em contexto urbano, a exemplo, os que ingressaram em universidades em meio a pandemia, pois, pela pouca vivência em cidade urbana desenvolvida, os mesmos têm bastante dificuldade em se adaptar ao novo panorama social, devido aos contrastes da vida universitária e da vida em aldeia. Essas dificuldades se intensificam na pandemia, pois, aos indígenas que tiveram pouco contato com meios tecnológicos lhes é atribuída uma rotina de aulas prioritariamente em plataformas digitais.

Já os indígenas que vivem isolados ou mesmos em regiões com pouco acesso a um sistema de saúde adequado são os que mais são afetados pela epidemia. No Amazonas, região que se tornou o epicentro da pandemia, os índices de contaminação são altos, especialmente na região do Alto Rio Negro. Em Manaus, o primeiro caso ocorreu no dia 13 de março com uma mulher de 49 anos, na volta de uma viagem internacional. Rapidamente o vírus se propagou, alcançando o seu pico entre meados dos meses de abril e maio, com média de 50 casos confirmados por dia, amenizando apenas em meados de junho.

Ademais, os municípios ao longo do rio são os mais afetados pelo vírus, pois carecem de estruturas especializadas. Por exemplo, o município de São Gabriel da Cachoeira, distante da capital, carece de leitos para atendimentos específicos, além de ser a porta de entrada para diversas aldeias indígenas isoladas que são mais vulneráveis ao vírus.

No dia 11 de abril houve a morte de um adolescente do povo Yanomami, que vivia em aldeia próxima a garimpos ilegais, por COVID-19. Tal caso reforça os alertas sobre a necessidade de ampliar a proteção dos territórios, afinal, não estamos expostos apenas ao vírus, mas também, ao aumento das invasões de crimes cometidos contra os territórios indígenas.

Com a falta de estrutura, é nítido que o estado brasileiro cria barreiras para impedir que povos indígenas tenham seus direitos assegurados, com o desmantelamento dos órgãos responsáveis pelos indígenas, a exemplo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), com medidas que evidenciam o seu desejo de extingui-la. Tal perspectiva reflete-se na carência de médicos e de profissionais técnicos em enfermagem e pelos ínfimos investimentos por parte do governo.

Para atenuar tal situação, a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), juntamente com outras associações pró-indígenas, criou campanhas para auxiliarem os isolados a se prevenirem do vírus, com medidas de higiene, bem como, auxiliando a receber o auxílio emergencial.

 

 

*Ângelo Gabriel é Dessana, estudante ingresso pelo Vestibular Indígena no curso de Administração Pública na Unicamp, bolsista do programa de Bolsa Auxílio Social (BAS) no projeto “Observatório dos Direitos Indígenas”.

Referências

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https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/05/05/am-registra-recorde-de-mortes-e-casos-confirmados-de-covid-19-em-um-unico-dia-total-chega-a-8109-infectados-e-649-mortos.ghtml acesso em 28/07

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https://oglobo.globo.com/brasil/adolescente-ianomami-morreu-por-falta-de-cuidados-medicos-diz-entidade-indigena-que-faz-alerta-sobre-garimpo-em-rr-1-24365771 acesso em 28/07

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https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/ministerio-age-para-acabar-com-controle-social-da-saude-indigena acesso em 28/07

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